Amorim Girão

Aristides de Amorim Girão, por Rui Gama

Evocar Aristides de Amorim Girão é relembrar a importância que teve na consolidação da escola geográfica de Coimbra. Durante mais de quatro décadas (1916 a 1960) ensinou e investigou na Universidade de Coimbra, tendo deixado uma marca decisiva em sucessivas gerações de estudantes.

Ao mesmo tempo, a investigação teve tradução numa vasta produção científica. Destacam-se, entre muitos títulos, A Geografia Moderna, Evolução, Conceito, Relação com outras ciências. Ensaio de síntese (Sep. da Revista da Universidade de Coimbra, 1917), A Bacia do Vouga. Estudo Geográfico (Dissertação de Doutoramento em Geografia, 1922), Viseu. Estudo de uma aglomeração urbana (Dissertação de concurso para Assistente da FLUC, 1925), Esboço duma Carta regional de Portugal (1933), Lições de Geografia Humana (1936), Geografia de Portugal (1941, 1949-1951), Atlas de Portugal (1941, 1958), Geografia Humana (1946) e O mais antigo mapa de Portugal - 1561 (1957).

Fortemente influenciado por autores da escola francesa (Vidal de la Blache, Jean Brunhes e Albert Demangeon), a sua investigação valoriza, para além da cartografia, as componentes descritiva e explicativa no estudo da paisagem. O seu trabalho de doutoramento é disso exemplo, evidenciando uma metodologia que marcaria todo o seu percurso de investigação.

Assumindo-se essencialmente um geógrafo humano, Amorim Girão considerava que a dimensão física da paisagem era indissociável da sua vertente humana, que “na sua variedade era o retoque de marca do homem no seu longo percurso histórico” (J. M. Pereira de Oliveira, 2000).

Um outro traço que caracteriza o percurso de Amorim Girão, e que continua a ser fundamental na aprendizagem dos estudantes de Geografia, é o trabalho de campo, o contacto com as paisagens, com as questões que suscitam e com a forma integrada como são procuradas as respostas, a que não será alheio o facto de se ter licenciado em Ciências Históricas e Geográficas.

Deixou muitos discípulos e uma Escola que se afirmou no quadro da Geografia portuguesa. Antecipou o tempo ao ter fundado o Centro de Estudos Geográficos e a primeira revista universitária de Geografia em Portugal (Boletim do Centro de Estudos Geográficos), sendo também responsável pelo primeiro Atlas de Portugal. O seu sentido de Escola está expresso também no papel que teve na Faculdade, ao ter exercido vários cargos de direção e de gestão, desde logo o de Diretor e de responsável pelos Cursos de Férias, cuja 97.ª edição decorre este ano.

O seu percurso e a sua marca continuam a ser um motivo de orgulho de estudantes e da sua Escola, que têm sabido honrar o legado do Homem de Ciência, mas também o Cidadão.