#43 Miguel Marques
Miguel Marques | Dezembro 2019
Nome: Miguel Marques
Naturalidade: Mártires - Lisboa
Idade: 44
Formação académica: Licenciatura em Geografia e Planeamento Regional UNL-FCSH
Ocupação Profissional: Geógrafo/CEO na Mapidea
Outros: Assistente Convidado no IGOT-UL (Geomarketing)
1 - Comentário a um livro que o marcou ou cuja leitura recomende.
Recomendo o livro “Never lost Again” de Bill Kilday. É uma descrição muito interessante da revolução geoespacial que o mundo teve oportunidade de viver com o aparecimento dos webmaps, sendo muito provavelmente o Google Maps o marco mais relevante. Não é um livro científico ou com qualquer tipo de explicação técnica sobre a área, mas sim um relato de quem esteve dentro deste processo – desde a criação da empresa Keyhole à compra pela Google e sobre a ambição de mapear o mundo e todas as coisas que nele existem.
2 - Que significado e que relevância tem, no que fez e no que faz, assim como no dia-a-dia, ser geógrafo?
Eu acho que não sei não ser geógrafo. Olho para o que está à volta com uma lente espacial, à procura de relações e explicações. No meu trabalho, lido com grandes volumes de dados, de diferentes fontes. O elemento “localização” é, muitas vezes, a única forma de relacionar estes dados - tão diferentes à partida. É o saber Geografia que me permite pensar desta forma e actuar sobre esses dados, transformando-os em informação.
3 - Na interação que estabelece com parceiros no exercício da sua atividade, é reconhecida a sua formação em Geografia? De que forma e como se expressa esse reconhecimento?
Na Mapidea, é da mistura de saberes que nascem os produtos de software que criamos: combinamos Geografia, Design, Programação e Business Intelligence para fazer com que as organizações possam olhar para os seus dados numa perspectiva geográfica. Dizer que já somos 3 geógrafos em 11 pessoas, é um excelente espelho do reconhecimento e importância que a Geografia assume.
4 - O que diria a um jovem à entrada da universidade a propósito da formação universitária em Geografia, sobre as perspetivas para um geógrafo na sociedade do futuro? E a um geógrafo a propósito das perspetivas, responsabilidades e oportunidades?
Diria que não existe melhor altura para saber Geografia. É um saber urgente e necessário a uma escala planetária, em que as sociedades e os países enfrentam desafios globais, e também num contexto empresarial: melhores decisões são tomadas quando os factos são visto num mapa. Diria também para não esperarem por um anúncio de emprego para geógrafo: Levem a Geografia até às farmaceuticas, às empresas de telecomunicações, aos bancos, às seguradoras. Por último, sugiro que evitem pensar apenas em tecnologia e em saber carregar em botões. Um buffer é um buffer, tanto faz ser em MapInfo, ArcGIS ou Qgis...
5 - Queríamos pedir-lhe que escolha um acontecimento recente, ou um tema atual, podendo ambos ser de âmbito nacional ou internacional. Apresente-nos esse acontecimento ou tema, explique as razões da sua escolha, e comente-o, tendo em conta em particular a sua perspectiva e análise como geógrafo.
Escolho o tema das novas formas de mobilidade nas cidades, em particular na cidade de Lisboa. Estamos a atravessar uma fase de experimentação, com diversas ofertas públicas e privadas a competirem entre si (ou a se complementarem). É muito interessante acompanhar e comparar o antes e depois do aparecimento das trotinetes eléctricas e bicicletas e perceber como nos estamos a adaptar a elas. Creio ainda ser necessário encaixar os interesses económicos e as regras que, muito provavelmente terão que ser mais rígidas, para que não hajam efeitos negativos na cidade – dos quais as imagens das trotinetes amontoadas nos passeios é exemplo. Estou seguro que as vantagens são maiores que os problemas, e que a mudança de comportamento enquanto sociedade irá resolver a maior parte das questões.
6 - Que lugar recomendaria para saída de campo em Portugal? Porquê?
Recomendo Lisboa. Subir à ponte junto das Torres de Lisboa, na segunda circular, para contar quantos carros passam num minuto. Depois, passar pelo Centro Comercial Colombo e contar quantas pessoas estão a utilizar a área da restauração. Por fim, visitar o Picoas Plaza e observar a quantidade de lojas fechadas ou reconvertidas em outras utilizações. Porquê? Porque são três exemplos de como a cidade vive, como muda e respira.