# 34 Henrique Alves

Henrique Alves | Fevereiro 2019

Nome: Henrique Alves
Naturalidade: Mogadouro, Bragança
Idade: 39
Formação académica: Licenciatura em Geografia e Mestrado em SIG
Ocupação Profissional: Fundador de StartUp

1 - Comentário a um livro que o marcou ou cuja leitura recomende.
"A Sociedade do Espectáculo" de Guy Débord. Uma leitura feita nos anos 60 ao capitalismo e às relações de poder nas sociedades pós-modernas que se mantém incrivelmente actual.

2 - Que significado e que relevância tem, no que fez e no que faz, assim como no dia-a-dia, ser geógrafo?
A formação académida, mais do que uma ferramenta para o mercado de trabalho é, na minha opinião, uma forma de estar na vida e de ver a vida. Ela dirige a nossa atenção para certos acontecimentos, pormenores, visões da realidade que outros com formações diferentes ou ignoram ou vêem segundo outro prisma. No método de produção económica actual essas visões diversas e ricas tendem a ser obliteradas. Assim, diria que, profissionalmente, essa riqueza que me foi dada na academia é poucas vezes solicitada. No dia a dia é sobretudo curioso, mas aí penso que será semelhante em muitas áreas do conhecimento, as ideias feitas sobre muitos temas da área da geografia que os meios de comunicação social propalam e difundem.

3 - Na interação que estabelece com parceiros no exercício da sua atividade, é reconhecida a sua formação em Geografia? De que forma e como se expressa esse reconhecimento?
Eu diria que é cada vez mais reconhecida mas ainda muito pouco. Desde a confusão com a área do conhecimento de que estamos a tratar até ao que realmente é a formação de um geógrafo. Muitas vezes é o espanto a reacção mais comum. Penso que os filósofos ou historiadores devem receber o mesmo tipo de reacção, para nomear apenas alguns campos do conhecimento.

4 - O que diria a um jovem à entrada da universidade a propósito da formação universitária em Geografia, sobre as perspetivas para um geógrafo na sociedade do futuro? E a um geógrafo a propósito das perspetivas, responsabilidades e oportunidades?
Desde logo, a formação em geografia irá proporcionar-lhe uma visão global do mundo que muito poucas licenciaturas permitem. Na minha opinião essa visão global vai ser cada vez mais importante na resolução dos problemas actuais e futuros, visto que atravessamos uma era crescente de globalização. Não tenho muito a dizer a um geógrafo sobre as perspectivas, responsabilidades e oportunidades. Penso que essas três vertentes resultam de um cruzamento da formação e sistema de valores muito próprio de cada um. As possibilidades são incontáveis, assim cada um siga aquilo que realmente o desafia e em que acredita.

5 - Queríamos pedir-lhe que escolha um acontecimento recente, ou um tema atual, podendo ambos ser de âmbito nacional ou internacional. Apresente-nos esse acontecimento ou tema, explique as razões da sua escolha, e comente-o, tendo em conta em particular a sua perspectiva e análise como geógrafo.
A crise dos refugiados na Europa. A materialização da "Fortaleza Europa" é anunciada há décadas, quer nos meios académicos, quer na cultura pop (séries, músicas, filmes, entre outros). De há uns anos para cá vive-se, de facto, uma crise humanitária resultante por um lado do número de refugiados e do fechar de portas da Europa a esses mesmos refugiados. Muitas vezes a atitude de Trump e o seu muro é criticada mas é ignorado o facto de esse muro já estar em prática na Europa, que já fez milhares de mortos, e sim, incluindo mulheres e crianças. É apenas necessário recuar 70 ou 80 anos para vermos europeus de todas as latitudes a bater à porta dos países da América do Norte e América do Sul. Nesses tempos que países como a Noruega ou o Luxemburgo eram totalmente rurais e cuja maioria dos habitantes vivia na miséria. Isto acontece enquanto quase sem excepção as populações dos países da UE decrescem e envelhecem. Uma UE branca e cristã será o novo (velho) paradigma? (veja-se o caso do eterno adiamento da entrada da Turquia).

6 - Que lugar recomendaria para saída de campo em Portugal? Porquê?
O Planalto Mirandês/Douro Internacional. Um convite a visitar aquela que é, na minha opinião, a região mais isolada de Portugal em mais do que uma dimensão. Uma região praticamente intocada pelo turismo, e em alguns casos pela voragem económica actual, e uma aula aberta quer sobre temas de geografia física quer sobre geografia humana. Uma terra de horizontes vastos, em mais do que um sentido, como penso não haver em Portugal.