# 30 José Miguel Gonçalves
Nome: José Miguel da Silva Lopes Gonçalves
Naturalidade: Caminha
Idade: 45 anos
Formação académica: Licenciatura em Geografia
Ocupação Profissional: Docente de Geografia dos Ensinos Básico e Secundário
Outros: Presidente da Junta de Freguesia da União das Freguesias de Caminha (Matriz) e Vilarelho
1 - Comentário a um livro que o marcou ou cuja leitura recomende
Um dos livros que me deixou recentemente uma marca mais impressiva foi “Pátria”, de Fernando Aramburu. Este romance transporta-nos para o País Basco marcado pela existência da ETA. Narra de uma forma sublime a divisão da sociedade, o medo, o ódio, mas também, a tentativa de viver um quotidiano normal num contexto muito difícil. No fundo, retrata a complexidade deste problema que felizmente, atualmente está ultrapassado, mas, como este livro nos mostra, com a persistência de feridas que demorarão muito tempo a sarar.
2 - Que significado e que relevância tem, no que fez e no que faz, assim como no dia-a-dia, ser geógrafo?
O que claramente nos diferencia é a capacidade e o interesse pela observação da realidade. Esta nossa vontade de absorver o que nos rodeia dota-nos de uma ferramenta preciosa para interagir com o território numa perspetiva global. A apreensão da globalidade é uma vantagem que temos em relação a outras áreas de conhecimento que têm um objeto muito mais concreto do que a Geografia. Estou convencido que a Geografia me levou a ser autarca. O trabalho no território, com a sua população, cria sem dúvida uma grande vontade de intervir e de ajudar, aproximando-nos das pessoas e das suas preocupações.
3 - Na interação que estabelece com parceiros no exercício da sua atividade, é reconhecida a sua formação em Geografia? De que forma e como se expressa esse reconhecimento?
Ser professor de Geografia, ainda, é muitas vezes visto pelos nossos colegas de outras disciplinas como aqueles “maluquinhos” dos mapas, onde as capitais e os países são o nosso grande objeto de estudo. Reproduzindo, assim, uma conceção clássica da Geografia. Claro que com a realização de projetos de articulação essa visão é ultrapassada dado que ficam a conhecer que a Geografia é muito mais do que a localização e a memorização dos países e das suas capitais.
Tenho estabelecido muitas parcerias com os municípios, especialmente com os geógrafos que trabalham no planeamento e nos sistemas de informação geográfica. Os alunos têm uma especial apetência por essa área e ficam com um melhor conhecimento do território que os rodeia.
Considero que com a articulação entre docente através de projetos interdisciplinares e com a abertura à sociedade conseguimos ter um maior reconhecimento para a nossa área de estudos.
4 - O que diria a um jovem à entrada da universidade a propósito da formação universitária em Geografia, sobre as perspetivas para um geógrafo na sociedade do futuro? E a um geógrafo a propósito das perspetivas, responsabilidades e oportunidades?
Em primeiro lugar que se aplique naquilo que está a fazer e que agarre todas as oportunidades que o estudo lhe proporciona. O estudante de hoje tem de estar muito preparado pois tem uma grande concorrência, um mercado de trabalho muito competitivo e uma sociedade cada vez mais complexa.
Os estudantes de Geografia têm muitas áreas que me parecem ter um grande futuro, como o planeamento, os sistemas de informação geográfica, a georreferenciação, o turismo, o ambiente, etc. Mas aquilo que me parece que marcará a diferença é a capacidade de uma constante aprendizagem. Hoje o conhecimento acontece todos os dias e só aqueles que tiverem essa vontade constante de aprender é que terão as melhores oportunidades.
5 - Queríamos pedir-lhe que escolha um acontecimento recente, ou um tema atual, podendo ambos ser de âmbito nacional ou internacional. Apresente-nos esse acontecimento ou tema, explique as razões da sua escolha, e comente-o, tendo em conta em particular a sua perspectiva e análise como geógrafo.
O ressurgimento dos nacionalismos com especial incidência na Europa. A visão nacionalista, aliada ao populismo é extremamente perigosa e põe em causa a segurança que temos vivido.
A democracia e a União Europeia têm-nos garantido um período de paz sem precedentes nos últimos séculos. Os sentimentos nacionalista e populista que estão a aparecer com muita força na Europa e noutras partes do mundo (E.U.A e Brasil) atacam os valores democráticos, o sentimento europeu e também uma visão de um mundo aberto. Fechar as fronteiras, não melhora a situação dos povos, mas sim, faz aumentar a tensão com implicações imprevisíveis no futuro.
Considero que os Geógrafos têm um papel muito importante no combate a esta visão do mundo. Se há algo que a Geografia nos ensina é a abertura e a tolerância que temos de ter para podermos compreender as outras realidades. A visão dos países fechados, onde o estrangeiro é o causador de todos os problemas é a visão contrária da missão da Geografia nos nossos dias. Assim devemos aprender com o que aconteceu no passado e não ficarmos indiferentes perante um fenómeno que pode modificar a nossa sociedade e pôr em causa o nosso futuro.
6 - Que lugar recomendaria para saída de campo em Portugal? Porquê?
O monte de Santo Antão, no concelho de Caminha. Do alto deste monte temos uma vista de 360 graus. Podemos ver os vales do rios Âncora, Coura e Minho, o Oceano numa dimensão superlativa, as praias de Vila Praia de Âncora, Moledo e Caminha, o estuário do rio Minho, os montes galegos, a serra de Arga, o sapal do rio Coura ( que nós chamamos Junqueira), os campos agrícolas típicos do Minho, e muito mais que não tem sentido descrever. Torna-se necessário, assim, visitar este lugar que é singular e que deixa o visitante completamente apaixonado.