Em jeito de homenagem à Dra. Adelaide Salvado

Em jeito de homenagem à Dra. Adelaide Salvado
A Dra. Maria Adelaide Neto dos Santos Salvado nasceu em Povos/Vila Franca de Xira, em 1937. O seu interesse pelo mundo leva-a a frequentar a licenciatura em Ciências Geográficas, entre 1955 e 1959.
O curso reparte-se pela Faculdade de Ciências e pela Faculdade de Letras. Era um curso duro. Na Faculdade de Ciências tem cadeiras como Curso Geral de Física, Matemáticas Gerais, Curso Geral de Botânica, Curso Geral de Zoologia, Geografia Matemática, Curso Geral de Mineralogia e Curso Geral de Geomorfologia. Em 1957/58 começa o curso da Faculdade de Letras (3º ano da licenciatura) nas instalações da Academia das Ciências, onde conhece o Professor Orlando Ribeiro, com quem se irá relacionando. A meio desse ano letivo, muda-se para a recém-inaugurada Faculdade de Letras, que a encanta. Os estudantes de Geografia são privilegiados: são poucos e têm as instalações do Centro de Estudos Geográficos só para si. Tem professores como Virgínia Rau, Oliveira Marques, Raquel Soeiro de Brito, Francisco Tenreiro e Jorge Dias, em cadeiras de novo diversas, da História à Etnologia, para além da Geografia. A sua tese de licenciatura, orientada pela Professora Raquel Soeiro de Brito, “Os Avieiros…”, será publicada mais tarde. Adelaide Salvado fará, depois, uma reflexão: a exigência do curso preparou-a para, depois, enfrentar diversos desafios profissionais.
Já licenciada, ingressa como docente de Geografia no Liceu Passos Manuel, em Lisboa, até 1968 – o que é interrompido entre 1963 e 1965, quando se desloca para Luanda, a fim de acompanhar o marido, militar mobilizado, tendo lecionado num liceu desta cidade. Em 1968/69 vai viver para Castelo Branco, cidade de onde é natural o marido e mais conveniente à saúde de um dos filhos. No Liceu Nacional de Nuno Álvares, a sua escola de Castelo Branco, realiza o estágio de professora de Geografia: a sua elevada classificação tem de ser aprovada pelo Ministério da Educação. Desempenha diversas funções no grupo de Geografia e na escola, como a de membro da primeira direção após o 25 de abril de 1974.
Cativa muitos dos seus alunos/as para a disciplina, vário/as dos quais vão depois para o curso de Geografia. A partir de 1979 torna-se formadora de professores (“orientadora”). Em 1986 ingressa na Escola Superior de Educação de Castelo Branco, quando esta passa a preparar professores de Geografia do 3º ciclo e do Secundário. Aí trabalhará também na formação em Geografia e áreas afins dos educadores de infância e dos professores dos primeiros ciclos do ensino básico, como professora adjunta convidada. Aposenta-se no começo dos anos 2000.
A atividade da Dra. Adelaide Salvado não se esgota na atividade docente, mesmo após a reforma. É conservadora-ajudante do Museu Francisco Tavares Proença Júnior (1978 a 1991). É responsável pelos capítulos de Geografia do Atlas Universal Verbo. Tem diversas publicações de etnografia e antropologia regionais, com um forte pendor para as questões religiosas, mas também publicações de âmbito mais educativo. Tem sido colaboradora da imprensa regional e de diversas revistas científicas portuguesas, mas também de Espanha. Efetua numerosas palestras, conferências e dinamiza cursos.
Recebe várias distinções: 1995, Prémio da Sociedade de História da Independência de Portugal, pelo livro Rei Wamba Espaço e Memória (co-autoria); 2004, Tributo ao exercício da cidadania, Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Castelo Branco; 2011, Sócia Honorária do Instituto de Investigaciones Antropologicas de Castilla y Léon (Universidade de Salamanca); 2020, Profissional do Ano, Rotary Clube de Castelo Branco; 2023, Confreira de Honra da Confraria Ibérica do Tejo, IV Forum Ibérico do Tejo; 2024, Cidadã Honorária de Castelo Branco, Junta de Freguesia de Castelo Branco.
Também em 22 de novembro de 2024, a Dra. Adelaide Salvado foi homenageada pelo IV Seminário Luso-Brasileiro de Geografia e Educação, organizado pelo ZOE/CEG-IGOT-Universidade de Lisboa, pelo seu contributo para a educação geográfica e pela sua contribuição cidadã.
No seu percurso de vida, revisitamos muita da história recente da Geografia e do seu ensino em Portugal. Pelo seu profissionalismo e empenho cidadão, a Dra. Adelaide Salvado é uma figura maior e inspiradora da Geografia portuguesa.
Sérgio Claudino (IGOT)