Fernando Rebelo

Fernando Rebelo, por Lúcio Cunha

No passado dia 9 de outubro completaram-se seis anos sobre o falecimento do Professor Doutor Fernando Rebelo. Um mestre muito querido e muito recordado na Geografia portuguesa, um geógrafo que nos deixou investigação de prestígio nacional e internacional, um homem que colocou a sua inteligência e a sua disponibilidade também ao serviço da gestão, tendo exercido com o rigor, a elegância e o brilho que sempre lhe reconheceremos, entre outros os cargos de Vice-Reitor e de Reitor da sua Universidade de Coimbra.

Fernando Rebelo foi um dos últimos geógrafos completos. Com efeito, trabalhou em Geografia Física e em Geografia Humana, desenvolveu trabalhos sobre aspectos de gerais e de pormenor da Geografia de Portugal, deixou textos sobre Portugal, Angola e o Brasil e utilizou dados e conhecimentos geográficos do mundo que percorreu nas suas aulas e nas suas investigações, desenvolveu investigação de carácter teórico-metodológico, mas privilegiou quase sempre a investigação aplicada. Mesmo sendo um geógrafo completo, no sentido em que investigou, ensinou e escreveu sobre o cruzamento dos diferentes saberes da Geografia, nunca foi um generalista. As centenas de textos que nos deixou sobre Geomorfologia (epistemologia da Geomorfologia, relevos quartzíticos, modelado das regiões periglaciares, processos erosivos actuais, evolução do litoral, entre muitos outros temas) e sobre riscos (teoria do risco, riscos sísmicos, geomorfológicos e hidrológicos, sobre o flagelo dos incêndios florestais e sobre erosão hídrica) são trabalhos sempre muito profundos no plano teórico e metodológico, rigorosos e exactos na análise e inovadores nos temas e nos métodos; são, sem qualquer dúvida, trabalhos importantes para a Geografia portuguesa, que deixaram marcas indeléveis nos seus muitos seguidores, particularmente nas escolas de Coimbra, do Porto e do Minho.

Depois de uma vida intensa e brilhante no plano académico (de professor, cientista e gestor universitário), reconhecida tanto em Coimbra, como no resto do país e no plano internacional, pouco depois da sua merecida jubilação Fernando Rebelo deixou-nos, de forma prematura e sentida como fortemente injusta. A Universidade de Coimbra ficou mais pobre, pois perdeu um dos seus reitores e um dos seus mais  brilhantes professores. Mas, a Geografia portuguesa também ficou muito mais pobre ao perder um geógrafo diligente, um investigador inteligente e um professor brilhante. Sabemos, nós os que ainda por cá andamos a fazer o nosso percurso de geógrafos, que naquilo que escrevemos e ensinamos, muito pouco é verdadeiramente nosso! Quase sempre estamos a utilizar, a rever, a repensar os conhecimentos que vimos, ouvimos e lemos de quem cá esteve antes de nós. Por isso, a Associação Portuguesa de Geógrafos, não pode deixar de passar esta efeméride, sem a recordação, em jeito de homenagem, ao Professor Fernando Rebelo.

Lúcio Cunha (Associado nº 150)