# 68 Lídia Terra

Lídia Terra | Geógrafa no Município de Loulé - Chefe da Divisão de Ação Climática e Economia Circular

Nome: Lídia Aurora Cardoso Terra
Naturalidade: Valpaços
Formação académica: Licenciada em Geografia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Mestre em Ordenamento do Território e SIG, pela Universidade Nova de Lisboa. 
Ocupação Profissional: Geógrafa no Município de Loulé, atualmente a exercer funções como Chefe da Divisão de Ação Climática e Economia Circular do Município de Loulé.
Outros:. Encontra-se atualmente a frequentar o 4º ano Programa Doutoral em Alterações Climáticas e Políticas de Desenvolvimento Sustentável, da Universidade de Lisboa.

1- Comentário a um livro que o marcou ou cuja leitura recomende.
Um livro cuja leitura recomendo e que me marcou pela urgência tão bem explanada de priorizar a problemática das alterações climáticas face ao capitalismo, trata-se do livro da jornalista e destacada defensora ambiental, a canadiana Naomi Klein (2016), “Tudo pode mudar. Capitalismo vs. clima.”, ainda não tinha lido esta matéria com tanta exatidão apresentada e com tanta irreverência. É um livro que inquieta, fala-nos da urgência de um sistema económico que admita a existência de limites naturais, priorização, da revolução do quotidiano conforme o conhecemos e da consciencialização da ação coletiva para resultados de superação da crise climática. Este livro mereceu o reconhecimento como bestseller do New York Times e foi também considerado livro do ano pelo Observer.

2- Que significado e que relevância tem, no que fez e no que faz, assim como no dia-a-dia, ser geógrafo?
Sobre ser geógrafa, sinto-o com orgulho, considero que se trata de um elo para sempre com o território.  Ser geógrafo é olhar com particularidade para o território, é saber ler as suas dinâmicas, é estar capacitado para trabalhar questões do mundo físico e do mundo social, uma verdadeira ciência de charneira. No meu dia-a-dia tem-me permitido o envolvimento em projetos únicos, relacionados com diferentes áreas de intervenção, nomeadamente o planeamento do território, a ação climática, a sensibilização ambiental, a eficiência energética, a gestão de recursos hídricos e a mobilidade suave.

3- Na interação que estabelece com parceiros no exercício da sua atividade, é reconhecida a sua formação em Geografia? De que forma e como se expressa esse reconhecimento?
Sim, considero que é reconhecida. Até então tenho integrado equipas multidisciplinares (com engenheiros do ambiente, do território, da energia, biólogos, arquitetos e também geógrafos) e considero que de forma crescente, o valor da geografia é cada vez mais reconhecido pela sua transversal capacidade técnica.

4- O que diria a um jovem à entrada da universidade a propósito da formação universitária em Geografia, sobre as perspetivas para um geógrafo na sociedade do futuro? E a um geógrafo a propósito das perspetivas, responsabilidades e oportunidades?
A um jovem à entrada da universidade, sobre perspetivas futuras, diria que se vai formar numa ciência pluridisciplinar, de utilidade na sociedade tanto no setor público como no privado, queira este enveredar pelo ensino, ordenamento do território ou gestão ambiental. 
Relativamente à abrangência das áreas que lhe são associadas, está a iniciar um percurso de formação com o qual se deve comprometer no sentido da especialização, sempre que possível será um ganho aprofundar e ampliar o seu conhecimento em prol das exigências e dinâmicas do seu objeto de estudo predominante – o território. Em termos de oportunidades, num momento que as questões de emergência climática se colocam como nunca antes, que é necessário dar resposta a curto prazo aos desafios sócio ambientais, que se conhecem os impactos da inoperância, acredito em mais  oportunidades para o papel do geógrafo, que venha a ser cada vez mais requisitado para o desenvolvimento e acompanhamento de projetos e estudos relacionados com gestão e conhecimento territorial, bem como o desenho de novos modelos de governança ambiental.

5- Queríamos pedir-lhe que escolha um acontecimento recente, ou um tema atual, podendo ambos ser de âmbito nacional ou internacional. Apresente-nos esse acontecimento ou tema, explique as razões da sua escolha, e comente-o, tendo em conta em particular a sua perspectiva e análise como geógrafo.
Só podia escolher um tema, o impacto das alterações climáticas no nosso presente e futuro, é uma das temáticas mais responsabilizantes e desafiantes que enfrentamos enquanto humanidade.  É também a área em que estou atualmente a especializar-me, nomeadamente através do Programa Doutoral em Alterações Climáticas e Políticas de Desenvolvimento Sustentável, da Universidade de Lisboa. Quando se fala de ação climática, só há uma hipótese, falar plural, inteligência coletiva para cumprir com resultados ambiciosos. É de tempo e ambição que se trata quando se fala em reduzir em 55% as nossas emissões, até 2030, em ser neutro em carbono, em 2050. 
Mitigar, adaptar, sequestrar são estes os verbos sobre os quais urge trabalhar, que exigem um compromisso do global ao local, de mudança no funcionamento do sistema económico, do consumo e das formas de produção.
Como geógrafa tenho a certeza que é necessário considerar a ciência para decidir melhor, os projetos a desenvolver têm que ser concertados e desenhados em função de conhecimento previamente definido em estratégias e planos de caracterização, cenarização e definição de ações prospetivas no tempo e no espaço, que nos indiquem os caminhos para responder com efetividade aos impactos e vulnerabilidades presentes em cada território. Relativamente à ação climática local (escala na qual trabalho) a criação de equipas multidisciplinares para trabalhar estas matérias (como o caso do município de Loulé, onde existe a Divisão de Ação Climática e Economia Circular) de instrumentos próprios alinhados com as metas nacionais e instrumentos regionais, nomeadamente Planos Municipais de Ação Climática, a crescente capacitação de técnicos bem como o envolvimento de diferentes entidades e da comunidade nos projetos em curso, têm-se configurado como fundamentais para o sucesso da ação climática.

6- Que lugar recomendaria para saída de campo em Portugal? Porquê?
Para uma saída de campo recomendaria a visita a um território pelo qual sou apaixonada – o concelho de Loulé, no Algarve, um concelho com litoral, barrocal e serra. Em concreto, recomendaria a visita ao território do aspirante Geoparque Algarvensis Loulé-Silves-Albufeira, um projeto que resulta de uma candidatura em curso a geoparque mundial da UNESCO, cuja equipa tenho a honra de integrar. Este projeto constitui uma oportunidade para a maior valorização e preservação deste riquíssimo território interior, do seu património cultural, ambiental e geológico, cuja geologia possibilita compreender nas suas paisagens capítulos da história da terra.
Aproveito a oportunidade e deixo o repto à visita e desde já a explorarem o endereço eletrónico deste projeto https://www.geoparquealgarvensis.pt.