# 61 Hélio Pinho

Hélio Pinho - Professor e autor de manuais escolares, atlas, livros auxiliares e recursos digitais 

 

Nome: Hélio Leandro Garcia Alves de Pinho
Naturalidade: Crestuma
Idade: 40 anos
Formação académica: Mestrado em Ensino da Geografia no 3.º ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário (FLUP) / Licenciatura em Geografia – Ramo Educacional (FLUP)
Ocupação Profissional: Professor e autor de manuais escolares, atlas, livros auxiliares e recursos digitais 
Outros: Formador de professores e revisor científico de obras infantojuvenis

1 - Comentário a um livro que o marcou ou cuja leitura recomende.
Não consigo apontar um livro específico que me tenha marcado enquanto professor de Geografia, mas consigo reconhecer a influência que certos livros acabaram por exercer nas minhas escolhas profissionais. A minha paixão pela Geografia nasceu, ainda criança, quando folheava os atlas que os meus pais tinham em casa. Passava horas a seguir com o olhar os contornos das fronteiras, a procurar locais com designações mais ou menos conhecidas, a imaginar paisagens… sentia-me a viajar! Aqueles livros que admirava colocavam-me o mundo nas mãos e iam alimentando uma infinidade de sonhos. Ainda hoje a cartografia exerce em mim um fascínio quase magnetizante. 

2 - Que significado e que relevância tem, no que fez e no que faz, assim como no dia-a-dia, ser geógrafo?
Constato claramente que a Geografia cruzou todas as experiências de trabalho que tive até ao presente e que representou o elo de ligação entre todas as aventuras profissionais por que passei. Aventuras porque, em primeiro lugar, cada uma das experiências profissionais envolveu algum risco, associado à incerteza do que estava para vir. Embora demonstrasse vontade em abraçar as propostas de trabalho, movido por uma certa busca por adrenalina, o medo e a ansiedade estiveram sempre presentes após as tomadas de decisão. Em segundo lugar, porque, na verdade, no meio do desconhecido e do incerto, havia uma certeza: a de que estava preparado para o desafio. Essa preparação, ou se quisermos sensação de segurança, era dada pelos conhecimentos e capacidades em Geografia, que tinha construído e desenvolvido ao longo do meu percurso escolar e, mais tarde, académico. No fundo, o que me fez dizer «sim» aos desafios profissionais foi sempre a Geografia, incrustada no coração como uma paixão interminável.
Além disso, o meu percurso profissional foi caracterizado, grosso modo, pela conciliação de duas atividades profissionais, aparentemente distintas, mas que, na realidade, se vieram a tornar complementares: o ensino e a edição escolar. Cada uma à sua maneira contribuiu para o desenvolvimento de competências específicas, que se vieram a revelar fundamentais no desempenho de ambas as profissões. O contacto diário com os estudantes, nos mais variados contextos de ensino, influenciou as obras (impressas ou digitais) que concebi, assim como, as inúmeras experiências editoriais permitiram um aperfeiçoamento da minha intervenção enquanto professor. Posso afirmar, com toda a convicção, que hoje me sinto um professor melhor preparado, em resultado do desenvolvimento pessoal e profissional que os trabalhos editoriais estimularam. Mas também sei que manter a profissão docente me inspirou a produzir mais e melhores recursos educativos. Por tudo isto, estas duas atividades profissionais estão, no presente, ligadas por um vínculo forte, difícil de quebrar. Curiosamente, no dia a dia, ser geógrafo desenvolveu a minha capacidade de orientação através dos mapas - destreza que se veio a revelar muito útil ao longo da vida, quer em viagens de turismo e lazer, quer em deslocações por motivos profissionais.

3 - Na interação que estabelece com parceiros no exercício da sua atividade, é reconhecida a sua formação em Geografia? De que forma e como se expressa esse reconhecimento?
Quer no ambiente escolar, quer no ambiente editorial, sinto que reconhecem a Geografia como a minha área de formação. Entre os alunos, por exemplo, sou muitas vezes questionado, inclusivamente fora da sala de aula, acerca de acontecimentos/assuntos/problemas noticiados pelos órgãos de comunicação social, ocorridos em determinadas regiões do mundo, e que de certo modo interpelam os estudantes mais curiosos. Entre familiares e amigos sou frequentemente consultado no que diz respeito a sugestões de viagens e passeios em Portugal ou no estrangeiro, pelo conhecimento quase enciclopédico que fui adquirindo desde a adolescência. E por vezes também sou chamado a manifestar a minha opinião sobre o impacte territorial que determinadas políticas têm a nível local, na freguesia onde resido.

4 - O que diria a um jovem à entrada da universidade a propósito da formação universitária em Geografia, sobre as perspetivas para um geógrafo na sociedade do futuro? E a um geógrafo a propósito das perspetivas, responsabilidades e oportunidades?
A um jovem à entrada da universidade diria que esse percurso académico, certamente, o fará ir além dos limites do mundo que conheceu até então. Perceberá que a Geografia é muito mais do que aquilo que aprendeu durante os Ensinos Básico e Secundário. Experimentará muitas técnicas e ferramentas ao serviço do saber geográfico. Contactará com professores que o vão inspirar. Conhecerá muitos colegas que com ele partilham o mesmo interesse profissional. Diria ainda que, mesmo depois da conclusão do curso universitário, sentirá que vai precisar de continuar a aprender, formal e/ou informalmente, ao longo da sua vida, porque também a Geografia é uma ciência em evolução.
A um geógrafo diria que, apesar de a sociedade parecer não lhe dar o valor que lhe é merecido, a sua responsabilidade será, garantidamente, reconhecida nas próximas décadas, porque nunca como hoje se discutiu tanto o futuro do nosso planeta. Talvez não pelos melhores motivos… O geógrafo é o especialista melhor colocado para pensar e intervir sobre o território, pois é capaz de observar e compreender o espaço numa perspetiva multidimensional.

5 - Queríamos pedir-lhe que escolha um acontecimento recente, ou um tema atual, podendo ambos ser de âmbito nacional ou internacional. Apresente-nos esse acontecimento ou tema, explique as razões da sua escolha, e comente-o, tendo em conta em particular a sua perspetiva e análise como geógrafo.
Escolho o tema das alterações climáticas e o seu impacte na submersão de países insulares do Pacífico, como Quiribáti e Tuvalu. Apesar das causas e das consequências deste grave problema da Humanidade estarem identificadas, parece não existir vontade política para concretizar uma ação global, com alcance local. Gosto particularmente de mostrar aos alunos que nem todos os seres humanos estão a sentir os efeitos das alterações climáticas com a mesma intensidade. Como será viver num país que corre o risco de desaparecer, nas próximas décadas? O que fazer para travar o avanço do mar? Que soluções para garantir o seu futuro destas populações? É muito interessante constatar como o engenho humano, graças a onerosas obras de engenharia de defesa costeira, pode apresentar-se como uma estratégia viável para a sobrevivência dos habitantes locais. Mas é também importante refletir numa alternativa como a migração forçada de milhares de pessoas com destino a um território situado num país vizinho (Fiji), comprado por alguns milhões de euros.

6 - Que lugar recomendaria para saída de campo em Portugal? Porquê?
Por motivos profissionais e pessoais, recomendaria a ilha da Madeira, pelo facto de num espaço relativamente pequeno apresentar muitos elementos de interesse pedagógico: a insularidade, a imponência do relevo, a singularidade da floresta Laurissilva e a (imprudente) ocupação humana. Esta saída de estudo levantaria muitas questões que merecem ser alvo de reflexão e discussão, ao mesmo tempo que constituiria um deleite para os cinco sentidos.