# 60 Bruno Carmo

Bruno Carmo - Geógrafo e Mestrando em Ensino de Geografia | Maio

 

Nome: Bruno Fernando da Silva Carmo 
Naturalidade: Carviçais (Torre de Moncorvo)
Formação académica: Mestre em Riscos, Cidades e Ordenamento do Território
Ocupação Profissional: Estudante (Mestrado em Ensino de Geografia)

1 - Comentário a um livro que o marcou ou cuja leitura recomende.
Um livro cuja leitura recomendo, para quem gosta da temática dos riscos naturais, é o do autor Kevin Sene, intitulado “Flash Floods: Forecasting and Warning”. Foi através deste livro que aprendi as noções científicas básicas na temática das cheias e inundações. Aprendi como as inundações repentinas têm um caráter mais destrutivo e imprevisível em comparação com as inundações progressivas (lentas) bem como a aplicação dos conceitos da teoria do risco nesta temática. A aposta na prevenção torna-se por isso crucial na mitigação dos danos (tangíveis e intangíveis) inerentes a este fenómeno/processo perigoso.

2 - Que significado e que relevância tem, no que fez e no que faz, assim como no dia-a-dia, ser geógrafo?
Bom, devido a ainda ser estudante, a minha carreira como geógrafo é ainda muito curta, no entanto, ver a minha Dissertação de Mestrado ser contemplada com o prémio APG Mestrado Edição UP foi um enorme orgulho, pois foi o reconhecimento do nosso muito trabalho, esforço e dedicação. Na dissertação, intitulada “Cheias e Inundações no Vale da Vilariça (Torre de Moncorvo): áreas inundáveis, danos causados em áreas agrícolas e gestão do risco”, procurei abordar uma área pouco estudada a nível nacional, onde foi realizada uma adaptação de uma metodologia de um autor francês para a avaliação dos danos tangíveis diretos nas áreas agrícolas afetadas por inundações. Este tipo de iniciativas e concursos promovidos pela APG devem de facto continuar a existir pois potenciam a competitividade saudável entre os alunos. Por fim, resta-me dizer que, na minha opinião, a Geografia mais do que ser a ciência que estuda todos os acontecimentos naturais e humanos que acontecem à superfície terrestre, é também a análise de problemas e a procura de soluções para esses problemas com incidência territorial, creio que esse é o dever e a responsabilidade do Geógrafo no seu dia-a-dia. 

3 - Na interação que estabelece com parceiros no exercício da sua atividade, é reconhecida a sua formação em Geografia? De que forma e como se expressa esse reconhecimento?
Como a minha carreira como Geógrafo é curta, em termos profissionais resta-me enaltecer alguns Geógrafos que ocuparam lugares de destaque em alguns projetos a nível nacional, o que revela o reconhecimento desta área de estudo. Por exemplo, a atribuição da coordenação do PNPOT à Professora Teresa Sá Marques e a atribuição do Plano Metropolitano de Adaptação às Alterações Climáticas na Área Metropolitana do Porto à Professora Ana Monteiro, que tem também diversos estudos a correlacionar os impactes do clima na saúde pública. 

4 - O que diria a um jovem à entrada da universidade a propósito da formação universitária em Geografia, sobre as perspetivas para um geógrafo na sociedade do futuro? E a um geógrafo a propósito das perspetivas, responsabilidades e oportunidades?
Diria que descubram ou tentem descobrir em que temática ou especialidade da Geografia conseguem dar o seu contributo para a Geografia, seja a nível nacional ou internacional. Que estudem para descobrirem o que realmente gostam de fazer em termos geográficos, quer seja no estudo de áreas que não se encontram devidamente estudadas, na criação de novas metodologias para analisar os impactes de alguns fenómenos, bem como encontrar soluções inovadoras para os territórios. Penso acima de tudo que se cada Geógrafo der o seu contributo, nas mais diversas áreas, estaremos a progredir para tornar o Mundo melhor, mais sustentável, mais habitável e resiliente.

5 - Queríamos pedir-lhe que escolha um acontecimento recente, ou um tema atual, podendo ambos ser de âmbito nacional ou internacional. Apresente-nos esse acontecimento ou tema, explique as razões da sua escolha, e comente-o, tendo em conta em particular a sua perspetiva e análise como geógrafo.
Um acontecimento que me preocupa, como geógrafo e como futuro professor de Geografia, tem que ver com o aumento do número de suicídios entre alunos de alguns países desenvolvidos como é o caso, muito referido, do Japão (Portugal incluído na lista, top 10), devido essencialmente ao bullying em ambiente escolar e à pressão a que os alunos são submetidos, diariamente, para se prepararem para as provas de avaliação. 
Na minha opinião e tendo em conta alguns conhecimentos em termos de psicologia da educação, a escola, em geral, deve ser um local em que os estudantes deverão ter prazer em aprender e onde os professores estimulem a “arte da dúvida” nos alunos através de um sistema de reforços positivos em vez da penalização. 
Estudos recentes (Cury, 2018) revelam que o bullying entre alunos causa “killer windows” entre os afetados que criam reações emocionais que dificultam a aprendizagem. Assim sendo, em termos geográficos é necessário estudar em que locais este fenómeno acontece para que se possam tomar as medidas necessárias para o mitigar. Segundo o mesmo autor, uma das soluções para estimular a concentração dos alunos e diminuir a sua ansiedade passa, por exemplo, pela reprodução de música clássica na sala de aulas. 
Trata-se de um problema atual com incidência geográfica e que pode ser prevenido, sendo crucial a identificação dos locais críticos. 

6 - Que lugar recomendaria para saída de campo em Portugal? Porquê?
Recomendaria a área conhecida como o “Baixo” Vale da Vilariça, mais concretamente na área em que o rio Sabor desagua no Douro, uma vez que “na foz deste vale, defronte ao monte de Meão, meandra o vasto Douro, num lençol de água que nos faz esquecer da nossa existência”. Com efeito trata-se de uma área com elevado potencial e diversidade para quem quiser aprofundar o seu conhecimento sobre a temática dos Riscos Naturais.
Neste local é possível observar o desnível/depressão existente no território devido à falha tectónica originando os conhecidos relevos montanhosos em forma triangular. É possível observar as consequências adversas causadas pelos incêndios florestais de 2015,os quais afetaram as árvores notáveis existentes na Serra do Reboredo. A temática dos Movimentos de Vertente está também presente nesta região devido à proximidade com o Alto Douro Vinhateiro, sendo possível imaginar as consequências de um deslizamento para o Património da Vinha principalmente nos troços mais encaixados do vale. Por último, evidencio um tema absolutamente apaixonante, as cheias e inundações que afetam a área recorrentemente, e que, se por um lado, tornam este local uma das áreas agrícolas mais férteis a nível nacional, por outro, causam danos/prejuízos diretos aos agricultores, devido à destruição das culturas agrícolas bem como da submersão da ponte de acesso à aldeia da Foz do Sabor, a qual fica, temporariamente, isolada.
Nesta temática, é possível ensinar o conceito de “rebofa” (ou regolfo), de “barral”, “courela”, “cabeceira” ou mesmo de “linha bluff” e. É possível ter noção da dimensão de uma inundação centenária através da observação de marcas e dos danos tangíveis aos diferentes elementos expostos decorrentes destes eventos hidro-meteorológicos extremos. Para mim, o grande desafio para esta área continuará a ser encontrar soluções sustentáveis, do ponto de vista económico e do ponto de vista da redução do perímetro de inundação, para mitigar as consequências adversas das inundações, aos diferentes elementos expostos.