# 27 Teresa Sá Marques

Teresa Sá Marques - Geógrafa

Professora Associada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde é Diretora do Departamento de Geografia. Membro do CEGOT (Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território) e até este ano sua coordenador. Coordenadora Científica da Alteração ao PNPOT (Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território). Tem desenvolvido investigação nas seguintes áreas: Sistemas Urbanos, Redes e Governança (ultimamente, Policentrismo e Politicas de Cidade); Economia e Desenvolvimento Territorial (ultimamente, TIC, Governança e Desenvolvimento Regional); Tecnologias de Informação e Ordenamento do Território (urban change: method application and spatial problems in built environments, with specialisation in new approaches to generating and evaluating plans and policies).

1 - Comente um livro que o marcou ou cuja leitura recomende

Peter Dickens com o seu livro Global Shift. Nunca foi objeto das minhas leituras geográficas até ao momento que o meu filho foi fazer a licenciatura em gestão internacional, em Londres. O geógrafo Peter Dickens era a leitura obrigatória para todos os estudantes do curso de gestão. E foi aí que eu o descobri e passei a adotá-lo como leitura obrigatória dos estudantes de geografia económica e social.

2 - Que significado e que relevância tem, no que fez e no que faz, assim como no dia a dia, ser geógrafa?

Aquilo que eu sou ou faço como geógrafa teve várias influências. O livro do Orlando Ribeiro, Portugal Atlântico e Mediterrâneo, está claramente na estrutura do meu processo de aprendizagem e ainda hoje consulto-o quando estou focada na análise evolutiva do território.

Como geógrafa, os estudos sobre o sistema urbano português marcaram a minha vida profissional desde os anos oitenta. As cidades médias e a importância dos centros urbanos complementares e mais tarde a conceção dos sistemas urbanos regionais. E aqui, a forma como penso, tem influências da teoria dos lugares centrais de Christaller e naturalmente do Prof. Jorge Gaspar. A geografia relacional trouxe uma visão mais policêntrica à forma como observo os sistemas urbanos. E continuo pesquisando a forma como os sistemas urbanos se podem estruturar na construção de uma maior coesão territorial.

Outra área predileta é o ordenamento do território. A primeira influência marcante foi do Arq. Nuno Portas. Nas viagens Porto – Guimarães, nas permanentes discussões e nos desafios partilhados também com o Álvaro Domingues. Mais tarde, os textos do João Ferrão passaram a ser leitura obrigatória, com o livro “O Ordenamento do Território como Política Pública” e mais recentemente com as suas reflexões na área do planeamento e da governança territorial. Nesta área são muitos os autores preferidos, mas a Simone Davoudi claramente marcou-me com as suas reflexões concetuais. A geografia económica é também para mim um importante porto de abrigo. Michael Stopper marcou a minha dissertação de mestrado e Amin e B. Asheim foram os eleitos no meu doutoramento.

Mas a minha principal paixão na geografia é o prazer que tenho pela cartografia. Adoro a reflexão a que alguns mapas me obrigam. Adoro as cores; o exercício de conjugar as cores na construção dos cartogramas. Tenho as minhas cores, faço e refaço, vou observando e melhorando. Demoro imenso tempo a construí-los e faço-os sempre em equipa.

3 - Na interação que estabelece com parceiros no exercício da sua atividade, é reconhecida a sua formação em Geografia? De que forma e como se expressa esse reconhecimento?  

A comunidade geográfica é pequena e pouco homogénea. Além disso, pouco visível e reconhecida. O reconhecimento vem sobretudo associado à capacidade de cada geógrafo se afirmar e diferenciar. A nossa capacidade de relacionamento de diferentes domínios e conhecimentos, o domínio de saberes cruzados ancorados no território, são claramente reconhecidos. A nossa capacidade de liderar equipas heterogéneas também nos diferencia.

Mas em matéria de reconhecimento, a comunidade geográfica tem ainda muito para caminhar.

4 - O que diria a um jovem à entrada de Universidade a propósito da formação universitária em Geografia, sobre as perspectivas para um geógrafo na sociedade do futuro? E a um geógrafo a propósito das perspectivas, responsabilidades e oportunidades?

Em todas as profissões o importante é gostarmos do que fazemos. Nem todos têm oportunidade de escolha. Mas as oportunidades também se criam e surgem quando estamos disponíveis, quando somos curiosos e quando arriscamos. Rigor, dedicação e disponibilidade para aprender é fundamental ao longo da vida.

5 - Queríamos pedir-lhe a escolha de um acontecimento recente, ou um tema atual, podendo ambos ser do âmbito nacional ou internacional. Apresente-nos esse acontecimento ou tema, explique as razões da sua escolha e comente-o tendo em conta em particular a sua perspetiva e análise como geógrafo.

Neste momento, naturalmente que a minha escolha é o PNPOT (Programa Nacional de Política de Ordenamento do Território). A escala nacional é apaixonante e fazer um instrumento de gestão territorial desta importância é um desafio único. A cartografia foi claramente o instrumento de comunicação privilegiado, a montagem de um documento simultaneamente comunicativo e profundo foi uma aposta conseguida. O principal repto vai ser implementá-lo e para isso precisamos de uma base institucional disponível e capacitada para o fazer. Vamos aguardar... 

6 -  Que lugar recomendaria para saída de campo em Portugal? Porquê?

A viagem em Portugal que mais me marcou foi fazer na primavera o corredor interior, começando em Chaves e acabando no Alqueva. A companhia de geógrafos da Universidade do Porto, com uma leitura da paisagem muito fina e detalhada, contribuiu claramente para uma reflexão alargada, num âmbito de boa conversa e boa mesa.